Por que 60% dos que apoiam Bolsonaro são jovens? - Moysés Pinto Neto

Resultado de imagem para moysés Pinto Neto
Moysés Pinto Neto
60% dos que apoiam o candidato fascista são jovens. O que está acontecendo? Eu tenho alguns palpites, uns mais casmurros, outros mais esperançosos:

a) a juventude é sempre do contra. Esses jovens viveram no clima majoritariamente progressista (nasceram para o mundo com Lula no poder) e veem no conservadorismo uma forma de protestar contra o sistema;

b) junte-se a isso a repaginada que o conservadorismo deu a si próprio, associando-se a gamers e metaleiros, contrapondo-se ao "politicamente correto" e com isso ganhando alguma aura paradoxalmente contracultural (isto é, o conservadorismo por ora ganhou a batalha estética);

c) a juventude é cheia de energia e vontade de mudar. O que a esquerda ou os progressistas em geral estão oferecendo em relação a isso? 2013 foi sufocado pela esquerda -- até hoje continuam tentando enterrar o acontecimento -- e a partir daí quem ocupou as ruas mesmo?

d) o principal nome da esquerda (não meu, certamente) é o Lula. Dá pra olhar pra frente com isso?

e) os jovens são cheios de energia e potência. O discurso da culpa e da vitimização, assim como os inúmeros enquadramentos estereotipados, vai sendo descartado por figuras mais ambíguas, anti-heróis, capazes de ao mesmo tempo ser novidade e potência (Kim, Holiday) e embaralhar as cartas do tabuleiro identitário;

f) a mesma razão serve, para além do nível comportamental, para o nível do projeto de futuro, em que apenas o liberalismo apresenta uma visão transformadora do Brasil, enquanto a esquerda fica com a resistência;

g) é uma geração que vive enfurnada nas telas, na infoesfera, e com isso passa por uma vigorosa corrosão da experiência corpórea. A memeficação da política facilita a adesão a fórmulas fáceis e populistas, uma vez que desfaz a complexidade do mundo, e quem soube ocupar esse espaço de youtubers primeiro foram os conservadores;

h) na mesma toada, os jovens perderam o contato com o atrito do real e não diferenciam mais o que é sério e o o que é brincadeira. Como disse o Cocco, é o fascio-fakismo. Eles realmente não acreditam que o palhaço seja homofóbico, violento ou machista -- tudo se perde na ambiguidade e indecidibilidade sobre o sentido verdadeiro ou falso do que é dito;

i) em síntese, um fenômeno mezzo político, substantivado no imenso vazio político e insatisfação geral cumulado com falta de alternativas de esquerda, e mezzo cultural-capilatístico, onde mescla um imenso déficit de atenção e outro imenso déficit de experiência (ambos causados pela intoxicação das redes a aceleração dos ritmos da vida).

PS: Já deixo o aviso que, se você não está interessado em compreender por que mais de 15 milhões de jovens apoiam um palhaço, não precisa ler isso.

Por Moysés Pinto Neto

Comentários

Postagens mais visitadas