Data venia: juízo sobre o julgamentão da mídia

A opinião publicada, mais que a pública, que pode ser redimida.

Data venia*...a princípio.

Ao longo dos últimos 3 meses pudemos acompanhar com abundante material diuturnamente publicado, veiculado e martelado pela grande mídia brasileira (escrita, falada, digitalizada e televisionada) o passo-a-passo do que ela mesma denominou o "maior julgamento da história". Ou, se preferem, o "divisor de águas da justiça brasileira". A ênfase na falta de precedentes remontava a nada menos que a chegada de Cabral. Ou, menos tragicamente, a Deodoro da Fonseca. 

Mais um episódio da série "Nunca antes na história deste
país" o STF teve tanta visibilidade.
Adjetivações hiperbólicas à parte, é óbvio que se tratava de um juízo importante. Tão importante quanto os julgamentos dos mensalões do PSDB e DEM deverão ser, ainda que sem a mesma cobertura jornalística a ser dispensada, isso é certo. O "juízo final" dos petistas (no STF, bem entendido), abriu mão dos chamados "atos de ofício" (juridiquês aprendido na didática cobertura da Globo), ou seja, provas diretas: assinaturas, gravações telefônicas, transferências bancárias, impressões digitais do Zé Dirceu na maçaneta da porta do Demóstenes Torres, enfim. Nada disso foi necessário. Bastou a "lógica" do encadeamento das ações do dito esquema. Reuniões com lideranças de partidos da base bastaram. Precedentes abertos...

Colarinhos brancos, tremei!

Foi um julgamento complexo. Três meses, sete fatias, dezenas de réus, centenas de advogados, milhares de páginas dos autos e holofotes. Caminhões deles. Todos direcionados a um grupo de notáveis. Onze  (depois dez) Magistrados da mais alta Corte do país. De um lado Joaquim Barbosa (o JB, indicado por Lula), relator, negro, de origem pobre, caráter irascível e obstinado. Ao lado dele a opinião publicada de 9 em cada 10 formadores de opinião e colunistas de política do país (afinal, era preciso explicar à população as razões das  prévias condenações). Do outro, Ricardo  Lewandowski (o Lew, também indicado por Lula),  revisor, caucasiano, sobrenome europeu e anti-herói da mídia. Só. Ao contrário da publicada, a opinião pública não se manifestou em favor dele, nem de ninguém. Só não queria pizza no fim dessa novela. O resto, coadjuvantes com cenas próprias de um elenco de apoio. Para fazer rir ou dar sustos, basicamente.

Nas redes sociais, atualizações, por segundo, das falas dos ministros. Destaque para arroubos mais cênicos  de um ou outro notável com inclinações ao palco. Luiz Fux e Gilmar Mendes, que o digam. Paralelamente, grandes portais munidos de hotsites com farto conteúdo cheios de desenhinhos e esqueminhas para atrair a atenção dos navegantes, geralmente com uma foto em preto e branco do Genoíno com raiva (que já não é lá muito simpático), para cravar uma impressão afetiva. Negativa, claro.

Enfim meu queridos iniciantes em política, manipulações à parte, o bom desse julgamento, além de  explicitar o posicionamento outrora velado de uma mídia anti-PT, é ter o mérito de exorcizar uma prática mal-feita em décadas de República: subsidiar financeiramente partidos aliados com codinomes de "caixa-dois", "sobras" de arrecadação de campanha ou seja lá o que for. É ilícito. Não se pode admitir nem no ficha-suja PSDB, reconhecido idealizador do esquema, quanto mais no, por ora, mal-lavado Partido dos Trabalhadores.

Mas não chegamos ao final. Que venham os julgamentos dos mensalões do PSDB em Minas Gerais (Eduardo Azeredo) e do DEM no Distrito Federal (José Roberto Arruda).

Porque meia justiça não é justiça alguma. 

A priori.

Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

*Com devido consentimento; dada a vênia. Expressão respeitosa com que se pede ao interlocutor permissão para discordar de seu ponto de vista. No caso desse texto, uma discordância com a forma da mídia tratar esta notícia.

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