Estatísticas Pejoteiras - Rogério Oliveira

Números não falam. Estatísticas, sim, mas nas entrelinhas.
Uma coisa que eu aprendi no curso de jornalismo e que a PJ me ajudou a entender melhor foi a importância das estatísticas. Elas servem para dizer um monte de coisas, sejam verdades, meias verdades, ou mesmo mentiras. Isso se dá porque os números tendem a impressionar, ainda mais se estiverem acompanhados de gráficos bonitos e textos bem escritos. Mas é importante observar o que está nas entrelinhas e nas possíveis intenções de quem escreve e de quem publica.

Por que digo isso? Porque muitas vezes nem temos dimensão do que alguns valores querem dizer. Por exemplo, dizem que a minha diocese tem mais de três milhões de habitantes. O que significa três milhões de pessoas? Você consegue quantificar isso? Consegue enxergar um povaréu deste tamanho? É muita gente! Ainda mais numa diocese pequenina territorialmente como é São Miguel Paulista. E eu acho que vou demorar muitos e muitos anos pra ter convivido ou conhecido três milhões de pessoas, se é que isso seja possível.

Números soltos, portanto, impressionam. Mas estamos falando aqui de estatísticas. E elas podem ajudar bastante nosso trabalho pastoral. Basta entender as entrelinhas, como já disse. Veja só: Você sabe hoje quantos grupos de Pastoral da Juventude existem em sua diocese? E quantos jovens são ligados a estes grupos? Saberia dizer qual o impacto que os grupos de PJ tem sobre a realidade juvenil da sua região?

São números e pesquisas que ajudariam muito a discernir a melhor forma de trabalhar. São informações que dão um norte, fazem com que possamos dar passos mais seguros. Eu me lembro que em 1998, quando o Marco Referencial da Pastoral da Juventude do Brasil foi lançado, havia uma informação muito interessante lá. Uma pesquisa havia sido feita e levantado que no Brasil haviam cerca de trinta mil grupos de jovens ligados à PJ. Eu achei aquilo fantástico. Dava uma força para a gente, melhorava nossa autoestima. Ter tantos colegas comungando dos mesmos ideais fazia com que nos sentíssemos mais importantes.

Mas a pesquisa não apontava qual o perfil destes grupos. Que idade média os jovens teriam? Quantos jovens participavam destes grupos? O que é que estes grupos faziam? Não dá para saber agora... E passado quase 15 anos desta pesquisa, é bem possível que a realidade hoje seja diferente. Uma nova geração nasceu e já está participando nos grupos.

E, que tal entrarmos no terreno das suposições? Imaginemos que não pioramos e não evoluímos. Mantivemos os 30 mil grupos. Imaginemos também que dentro da ideia de adolescentização dos grupos, a média de idade dos participantes está entre os 15 e 19 anos. E que em média, também, há cerca de 20 participantes por grupo. O que teríamos? Atingiríamos diretamente seiscentos mil jovens. Fantástico isso, não?

Você sabe quantos adolescentes existem no Brasil nesta faixa etária? Quase dezessete milhões de pessoas, segundo o último censo de 2010. A turma da PJ é pouco mais de 3,5% deste total. Você acha pouco? Se aos quase dezessete milhões citados, nós somarmos a turma de 20 a 24 anos (que dá mais de dezessete milhões), que também são jovens, a porcentagem cairia pela metade (1,75%).
Claro que nem todos estes mais de 34 milhões de jovens não são católicos. Segundo os dados preliminares já divulgados pelo último censo, a população católica gira em torno dos 74%. Se esta porcentagem se refletisse sobre o contingente jovem, teríamos pouco mais de 25 milhões de jovens católicos. Os jovens da PJ seriam algo em torno de 2,4% desta população.

Amigos mais chegados, ao lerem tudo isto, podem certamente dizer: “Que viagem essa do Rogério!!!!”. Eu não culparia você caso tenha este mesmo pensamento, porque de fato é uma viagem. Viagem pelas possibilidades. Primeiro porque não sabemos quantos grupos realmente a PJ atinge, nem quantos jovens participam deles e nem o que estes grupos fazem.

Em segundo lugar, porque pensar que atingimos diretamente tão poucos jovens não é uma viagem de números hipotéticos. Olhe aí para os grupos que você conhece. E olhe depois para os bairros onde estes grupos existem. Há uma multidão de jovens que não participa deles.

Isto desanima você? Sim? Que pena!!! Deparar-se com números assim não deveria desestimular nenhum pejoteiro. Pelo contrário. Ser 1%, 2% num mar de juventude escancara diante de nós um mar de possibilidades. Olha só quantos jovens que podem ainda conhecer nossa proposta?

E é sabido que a PJ acontece nos grupos e além deles também. Há uma juventude externa aos muros paroquiais que se beneficia das nossas atividades externas (vide os DNJ’s) e entram em contato com nossos valores, sem nunca terem pisado num grupo de jovens. E há muitos outros jovens ligados à entidades parceiras de eventos que compartilham sonhos em comum. Há muito bem que pode ser feito. E isso, nem sempre as estatísticas conseguem demonstrar.

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