Como me tornei flamenguista

Desde que me entendo por gente adoro jogar bola. Minhas lembranças mais saborosas da pré-adolescência estão todas elas ligadas ao esporte bretão, seja na escola ou com os amigos de vizinhança. A paixão começou com a Copa da Itália, em 1990. Foi um impacto a eliminação do Brasil nas oitavas de final, para a Argentina. Chorei muito. Talvez pela decepção deixei de lado, mas depois de um tempo, ela voltou. E de forma definitiva. Quando tinha de 12 para 13 anos, ingressei numa fase de fissura por futebol diferente. Quem é garoto (ou o mantém vivo, despeito à idade) sabe a que me refiro. 

Leovegildo Lins Gama Júnior, o craque da camisa 5
É uma fase em que futebol deixa de ser uma mera "brincadeira", como as outras dezenas, apetecíveis às crianças. É momento de escolher o time do coração. Algo que definiria minha "identidade" dali por diante. Tinha a ver com caráter, personalidade, filosofia de vida, sei lá. Até as amizades encontrariam maior ou menor afinidade dali em diante. Conhecer a escalação dos times, os principais jogadores, as revelações, o histórico dos clubes e até variações táticas passavam a ser conteúdo obrigatório. Sem isso, metade das conversas com os colegas não teriam rendimento. Faltaria assunto!

Pois bem. Era 1992 e, graças a Deus, o time campeão daquele ano viria a ser o Clube de Regatas Flamengo, o Mengão! Júnior, veterano mas num dos auges de sua forma, comandou o time numa arrancada espetacular nos últimos oito jogos do Brasileirão, nos dois jogos da final contra o Botafogo, inclusive. Arrebentou! Antes desse título não me lembro, objetivamente, de  ter vestido, como real torcedor, a camisa de nenhum clube. Tinha simpatia pelo São Paulo do Telê. Era o time da moda na época. Bicampeão da Libertadores, do Mundial Interclubes, jogava bonito, Raí e Palhinha faziam uma dupla fantástica, enfim. A paixão que o Flamengo me despertou, porém, foi insuperável. A torcida, o que dizer dela? Fui definitivamente contagiado. Ver o Maracanã gritando em vermelho e preto me provocou os primeiros arrepios na espinha. Lembro-me (hilariamente) minha preocupação em aprender o Hino do clube. Consegui uma fita K7 com uma gravação do Hino. Ruinzinha que só ela, mas era a que tinha. Devo tê-la escutado uma cinquenta vezes. Estava obstinado. Tinha que decorar "Uma vez Flamengo, sempre Flamengo..." ali e rápido. Afinal, que raio de flamenguista eu seria se não soubesse cantar o Hino do mais querido? Era questão de honra.

Aprendi. E nunca mais esqueci. A simpatia pelo São Paulo passou (ainda que sempre torça pelo tricolor paulista, principalmente contra o Choríntians), a seleção brasileira já foi a três finais de Copa, ganhou duas, vamos sediar a próxima. O Mengão já foi hexa e está prestes a  ganhar a enésima Taça Guanabara. Muita água já rolou e continuará rolando por debaixo da ponte, mas parafraseando Tostão: "O futebol é das poucas coisas na vida que provocam as mesmas intensas emoções aos 8 e aos 80 anos". O rubro-negro, então, nem me fale.

Para sempre Flamengo.

Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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