Juventudes em Pastoral




Não. Não dá mais para pensar que a PJ tem todas as respostas para todas as juventudes. E nem que seus questionamentos servem para todos os jovens. Confesso que eu tive esta ilusão quando estava em meus primeiros anos na pastoral. Mas este é um fato que hoje eu compreendo melhor. Agradeço, pois, ao tempo e às muitas divergências com quem pensava diferente de mim em tantos e tantos aspectos.

Deixei de lado também a versão maniqueísta de que a PJ é o bem e quem não caminha ao nosso lado é o mal. Como se perdem oportunidades e contatos maravilhosos com tantas e tão boas lideranças por causa desta visão estreita!

Quantas vezes o meu preconceito fez com que eu me afastasse de alguns jovens só porque eles eram ativos em determinados movimentos de ordem mais espiritualista. Não compreendia que este meu afastamento deles gerava também a impossibilidade deles conhecerem um pouco mais das belezas da PJ.

Aprendi com duas amigas da diocese de Santo Amaro que há muito da alma pejoteira em jovens que estão nos movimentos. Suspeito até que elas são mais pejoteiras que muito pejoteiro que tem por aí. Um colega que lê este texto agora pode se perguntar: “se elas são tão boas assim por que não estão na PJ?” A resposta é simples. Porque elas têm uma ligação afetiva com o movimento de origem. Porque elas se identificam muito com a proposta do movimento. E porque elas querem continuar atuando por lá.
Sinto em algumas lideranças pejoteiras este mesmo olhar de desconfiança com quem não carrega a cruz da PJ na camiseta, o anel de tucum no dedo ou tem o mesmo discurso que a gente. Gente, o que é isso? O Reino de Deus é muito maior do que a PJ. Infinitamente maior. Há duas posturas, portanto, que eu acredito que devamos ter e manter:

Não atingimos todas as juventudes. E, como disse no início, nem é nossa pretensão atingi-las. Há muitos grupos na Igreja e fora dela que atingem parcelas que nós não temos contato. E há vários destes grupos dispostos ao diálogo e à troca de experiências. Por que não interagir com eles? 

A segunda postura diz respeito justamente à interação. Interagir não significa deixar de ser o que se é para ser aquilo que o outro é. Há grupos que pensam e agem assim: “Eu só dialogo com vocês, se for nos nossos termos. Se não for, tchau e bênção”. Muitos grupos de PJ sofrem com isso, pois são vítimas deste tipo de intolerância. Mas, infelizmente, já vi grupos e lideranças pejoteiras agindo da mesma forma quando estão por cima da carne seca. 

O medo do diferente é uma atitude comum no mundo adulto, do mundo das coisas estabelecidas. Eu aprendi com a Pastoral da Juventude que é justamente por isso que o jovem é sempre o portador das novidades, das diferenças. Quando acontece do jovem barrar o diferente, ou é porque a coisa é ruim (ou aparenta ser ruim) demais ou o jovem envelheceu. E quando o jovem envelhece, há menos disposição na luta pelo Reino de Deus.

Esta conversa, inevitavelmente, nos leva ao tão falado Setor Juventude. Se a gente olhar o que está escrito no documento 85 da CNBB que trata da evangelização da juventude e que foi o texto oficial que lançou no Brasil o tal setor, veremos que ele não é uma iniciativa ruim. 

Quando o documento fala em estruturas de acompanhamento, diz “186. Organizar uma articulação mais ampla — Setor Juventude — que envolva todas as forças que trabalham com jovens”. Ou ainda, mais adiante no texto diz no item 193 que cada organização que trabalhe com jovens tem sua organização e espaços de atuação e formação e que o Setor Juventude seria um espaço para unir e articular forças, o que não significa colocar tudo num mesmo saco, pois todos estes organismos que compõe o Setor Juventude têm sua própria mística, metodologia, identidade e organização. E isso deve ser respeitado. Em algumas dioceses, porém, o Setor Juventude vem sendo implantado a custa da extinção da PJ. É um erro de interpretação do documento. O setor veio para somar, não para extinguir. 

Se conseguirmos caminhar juntos, ótimo. A PJ não é o Setor Juventude e não cabe a ela mudar sua identidade para este fim. E  um setor juventude sem a PJ se torna capenga de uma experiência rica e de uma metodologia que dá certo a quase quarenta anos.

Não nos esqueçamos, portanto: o Reino de Deus é muito maior do que a PJ. Fazemos parcerias ou somos autossuficientes? Se trabalhamos juntos, como é este trabalho? Deixamos de ter nossa identidade? Deixamos que o outro também a tenha? O que a PJ coloca na mesa para este trabalho comum? Podemos não estar no mesmo grupo e andar do mesmo jeito, mas se caminhamos para o mesmo lado e com o mesmo objetivo, uma hora ou outra nos encontraremos. E será sempre na luta pela e com a juventude. Sempre pela vida.
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Grifo nosso.
Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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