Aprendizado, Sentido e Identidade



O que me move? O que me faz sair do lugar em que estou? Penso que nada responde melhor essa pergunta que a palavra “sentido”.

Em educação, diz-se que a aprendizagem se dá quando, no processo de interlocução entre sujeitos educadores e educandos, aquilo que o professor leva para o sagrado chão da sala de aula adquire sentido para os estudantes.

Tenho conseguido entender melhor essa ideia com meu filhinho, João Pedro, de 1 ano e meio. Como toda criança, ele, quando aprende algo novo, se surpreende com ênfase. Sabe aquela tomada de ar de susto (sem ser susto), com olhar arregalado e sorriso no rosto?! Pois é.

Mesmo diante de coisas, para nós, bobas como quando ele entendeu o sentido da existência de um único botão vermelho do controle remoto, que liga e desliga o televisor (e se refastelou de alegria!), houve um aprendizado ligado ao sentido. A criança busca o sentido das coisas para se relacionar e comunicar melhor, ainda que seja apenas com aquela coisa. No fundo, a experiência do bebê é a de todos nós quando se acende aquela luzinha do "eureca!". Com o tempo, porém, vamos perdendo esse encantamento. O sorriso no rosto, o olhar arregalado e a tomada de ar desaparecem e – frente ao aprendizado – vamos reagindo com menor empolgação. Uma pena!

De qualquer maneira, seja com o João Pedro, seja comigo, seja com o presidente da república, seja com você que está lendo essas palavras agora... aprendemos quando: coisas, palavras, fórmulas, situações, símbolos, ritos, mitos, regras, valores, princípios, estórias e histórias adquirem sentido para nós.

Mais na frente, o João Pedro vai precisar aprender outros mecanismos mais complexos que o funcionamento de um controle remoto para continuar entendendo as coisas, pessoas, relações, textos, contextos e pretextos. Pra se relacionar e comunicar melhor? Também! Mas outras necessidades surgem, tais como: saber o que é felicidade, desejar isso e procurar caminhos para tanto, perscrutar a experiência da morte, conquistar a mulher desejada, discernir democraticamente a melhor opção de voto nas eleições, enfim, em qualquer nível ou dimensão de aprendizado, lá estará o combustível do sentido a impulsioná-lo.

No chão da vida percebemos que para outras pessoas há outros sentidos – diferentes dos nossos – opções de voto, religião, princípios, valores, ideologias e até novelas. Devemos considerar extremamente legítimo que se apresentem. Melhor ainda, quando se foge de clichês e se agregam reflexões substanciosas, que nos oportunizam aprendizados significativos. Muitos sentidos se combinam e entram em conflito na formação das pessoas. Reconhecer e lidar com diferentes saberes, abrir mão de modelos pré-estabelecidos e se dispor a dialogar é, até agora, a melhor maneira que inventaram de assumirmos nossa identidade e decidirmos por nossos caminhos. E isso não tem nada a ver com aceitar e relativizar tudo, percebe?!

Sabe aquela tomada de ar de susto (sem ser susto), com olhar arregalado e sorriso no rosto?! Pois é.
Assim sendo, só quem aprofunda sua identidade pode servir de referência e oferecer sentidos novos a uma realidade plural e multifacetada. Somente quem sabe quem é, e o que quer da vida será capaz de oferecer respostas novas às novas perguntas que nascem no bojo da pós-modernidade. Sentidos novos para uma humanidade nova. Respostas diferenciadas para um mundo em busca de sentido! Encantamento, tomada de ar de susto (sem ser susto), olhar arregalado, sorriso no rosto. Eureca! Entendi!


Na raça e na paz Dele,
J. Braga.

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